O vídeo online nos dispositivos móveis

As dificuldades de ter conteúdo audiovisual nos celulares e tablets desafiam os canais por melhor qualidade e mais agilidade na transmissão.

Em geral, usuário não tem uma boa experiência para assistir vídeos pelo celular, apontaram especialistas

A palestra “Internet: mercado de vídeos on-line”, moderada por Marcelo Azambuja (SET/ Globo.com) aconteceu nesta quarta-feira, 27 de agosto de 2014, na sala 12 da 26ª edição do Congresso SET, organizado pela Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET).

A entrega do vídeo nos dispositivos móveis foi um dos temas abordados durante o painel que trouxe profissionais do Terra.com.br, da Globo.com, do Youtube e da SambaTech. Com o intuito de promover um debate em torno da logística de entrega do conteúdo, os palestrantes se basearam em dados coletados pelas empresas, como tráfego, números de acesso e avaliação de experiências para apontar possíveis caminhos no mercado de vídeos online.

Werner Michels do Portal Terra trouxe para o painel as experiências da empresa para auxiliar na construção de um desenho sobre o futuro dessa modalidade de distribuição de conteúdo audiovisual. Segundo ele, a transmissão de vídeos pela internet evoluiu bastante, no entanto assistir vídeo nos dispositivos móveis através da rede 3G é o grande desafio dos desenvolvedores. “Nós não temos controle sobre a área de tecnologia das operadoras de internet móveis, e a eficiência desse serviço influência diretamente na experiência que o usuário vai ter ao assistir o vídeo” destacou.

Consciente dessa limitação, Michels contou que ele é franco com o contratante, “é importante alinhar as expectativas do dono do conteúdo com a realidade, a primeira ligação que ele receber de alguém dizendo que não está vendo a transmissão, certamente vai ficar insatisfeito com o seu serviço” explicou ao se referir aos provedores.

De acordo com dados apresentados nesse painel, especialistas afirmam que haverá um crescimento de 70% no tráfego de dados da rede móvel até 2018. A velocidade média do brasileiro é de 2,6 Mbps.

Rafael Pereira (Globo.com) apresentou um case sobre a transmissão da Copa do Mundo realizada pelo portal. Para mostrar o crescimento na demanda pelos jogos via internet ele trouxe números para um comparativo com as transmissões anteriores. De acordo com os dados do próprio portal, 44 mil internautas assistiram a primeira transmissão da Copa pela internet feita em 2006. Neste experimento, eles utilizam o Windows Media como player e dispararam de seus servidores 7.8 Gbps em imagens distribuídas. A velocidade de acesso média naquela época para o usuário final era de 420 kbps.

Na copa seguinte os números mostram um vertiginoso crescimento pela busca do conteúdo da Globo online durante os jogos. Com player otimizado, o streaming agora em flash atraiu 285 mil usuários simultâneos, o que representa um crescimento de quase 600%.

Na Copa seguinte o número de pessoas que assistiu os jogos pela internet quase que dobrou. Foi registrado um total de 490 mil acessos. No entanto, a estrutura preparada pela equipe técnica foi para suportar 1 milhão de acessos simultâneos, o que indica que ficou muito abaixo do esperado. Mesmo assim, Rafael Pereira disse que faz uma avaliação positiva da transmissão, “estávamos preparados para um milhão de acessos, caso isso ocorresse”, enfatizou.

Para atrair a audiência do público, Pereira destaca que não é necessário oferecer apenas a transmissão online. Várias ferramentas que estavam disponíveis apenas na versão online, algumas somente para assinantes da Globo.com foram incorporadas no portal durante a cobertura da Copa. Além de poder rever os lances na hora que quisesse sem sair da transmissão ao vivo, o internauta também podia escolher o melhor ângulo para apreciar a jogada.

E para endossar ainda mais o assunto de vídeo via internet, a representante do maior portal de audiovisual na rede, trouxe para o painel diferentes estratégias adotadas pelo Youtube para fidelizar o internauta. Responsável pelas parcerias estratégias do portal de vídeos da Google, Sandra Jimenez destacou que é preciso muito mais que oferecer conteúdo bom e de qualidade para garantir o sucesso de um canal, “é preciso criar fãs. Quando o internauta se torna fã, ele quer muito mais que assistir, ele quer participar, quer criar a versão dele, quer divulgar para que amigos dele também assistam, e isso que mantém a audiência”, exemplificou.

Sandra ainda apresentou importantes dados que ratificam o que ela afirmou durante sua palestra. Segundo ela, exemplo disso são os canais dos humoristas brasileiros “Porta dos Fundos”. “Na segunda-feira, às 11 horas da manhã, quando o pessoal vai subir o vídeo, o canal deles tem o mesmo número de acesso naquele horário que o resto da semana. Isso demonstra a fidelização do usuário e a criação de uma rede de fãs. Eles ficam esperando para poder participar, compartilhar, interagir”.

Com relação a mobilidade dos vídeos exibidos na internet, Sandra apresentou um número que demonstra que a cada quatro vídeos assistidos no “Youtube” um deles é acessado de dispositivo móvel. “Em cada uma das telas o usuário consome conteúdo diferente. Enquanto está assistindo a novela, está respondendo as mensagens no celular e verificando os e-mails no tablet” explicou.

Rodrigo Paolucci (CEO da SambaTech), destacou as facilidades de consumo e produção de audiovisual via internet. “O antigo consumidor de conteúdo era passivo, agora ele além de ativo quer produzir o seu conteúdo também, o que tem provocado um caos nas plataformas”, argumentou.

Uma pesquisa que ele apresentou no painel, mostrou que 70% dos vídeos disponíveis na internet foram visualizados por menos de 500 vezes, o que, segundo o profissional, representa que não obtiveram a audiência desejada pelos produtores. “É preciso estar preparado para atender a demanda e produzir vídeos multiplataformas para valorizar seu produto. O usuário está cada vez mais selecionando aquilo que é relevante para ele, e o produtor precisa construir essa base de conteúdo relevante também”.

De acordo com Paolucci, grande parte desses 70% dos vídeos que não obtiveram a audiência desejada, quem começa a assistir o conteúdo sai do canal nos primeiros 20 segundos depois de apertar o play. Para ele, o planejamento e distribuição do conteúdo é fundamental para atingir o público desejado, e obter sucesso na produção. “O conteúdo pode ser rei, mas a distribuição é a rainha”, finalizou.

O Congresso da SET teve 44 sessões e 220 palestrantes distribuídos em 4 auditórios simultâneos, em um fórum que congregou um grupo seleto de mais de 1.00 profissionais que discutiram as questões mais relevantes do setor intensamente durante um período de 4 dias.

O evento reuniu, de 24 a 27 de agosto de 2014 no Pavilhão Azul do Centro de Convenções e Exposições Expo Center Norte em São Paulo, especialistas do Brasil, Estados Unidos, Japão, Europa e América Latina, que discutem os principais aspectos da produção, transmissão e distribuição em TV, além de temas relacionados a vídeo, cinema, rádio e internet. Entre os temas destacados está o switch-off da TV, as interações entre TV e Internet, os desenvolvimentos tecnológicos da Copa do Mundo e muitíssimos outros temas de atualidade da indústria.

*Por Antonio Araujo, Mestrando UFSCar