A visão da comunicação para o futuro do broadcasting e das novas mídias

Congresso SET

Em painel realizado no SET EXPO 2017, acadêmicos brasileiros da área de pesquisa em Comunicação analisaram as mudanças na cadeia de produção audiovisual e radiofônica brasileira e discutiram os desafios da academia e do mercado frente às transformações tecnológicas

A sessão “A visão da comunicação para o futuro do broadcasting e das novas mídias” é uma parceria entre a Revista da SET e a Universidade Estadual Paulista (Unesp) que ocorre há cinco anos no Congresso SET EXPO. “O objetivo é mostrar aos broadcasters e engenheiros como os professores e a academia trabalham com os fenômenos da televisão e do rádio em um ambiente de convergência de mídias e de transformações mercadológicas, culturais, tecnológicas e sociais”, introduziu o professor do curso de Jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi, e editor-chefe da Revista da SET, Fernando Carlos Moura, o moderador do painel.

Fernando Moura afirmou que na segunda década do século XXI é impreterível juntar a academia com a indústria que passa por uma grande transformação

O broadcast tem muito tempo de vida, na opinião do professor, mesmo em um contexto de aceleração da convergência e de avanço da banda larga. “A banda larga está mudando o conceito com o qual trabalhamos, mas ainda é um recurso finito. A televisão continua tendo uma importância superlativa com grandes eventos como a Copa do Mundo e a Olimpíada, mas as novas mídias funcionam também a partir deste conceito: os antigos consumidores, como disse Henry Jenkins, eram previsíveis. Os mais jovens, são menos. Nós, no broadcast, precisamos tentar vislumbrar, então, a convergência a partir de seus três eixos básicos: o conjunto de mídias envolvidas no processo, os suportes, e os conteúdos e seus consumidores”, ponderou.

Francisco Machado Filho, professor dos cursos de Jornalismo e Rádio e TV da Unesp e diretor da televisão da universitária da instituição, a TV Unesp, apresentou o trabalho de pesquisa e inovação realizado pela emissora, sediada Bauru, no interior do estado de São Paulo. “Além de trabalharmos com os conteúdos televisivos, por ser uma emissora universitária, também temos como função e objetivo as pesquisas. Em um contexto de convergência midiática, utilizamos o Ginga como uma ferramenta inclusiva. Se não fôssemos uma emissora universitária, talvez não tivéssemos essa preocupação. Mas, para famílias como as dos os usuários do Programa Bolsa Família, acreditamos que o Ginga ainda tenha potencial de inclusão”, destacou.

Renato Tavares Junior lembrou que a TV tradicional ainda é responsável por mais de 50% da audiência

Renato Tavares Júnior, coordenador do curso de Radio e TV da Universidade Anhembi Morumbi e professor da Faculdade Cásper Líbero, acredita que as emissoras precisam estimular o uso do Ginga, disponibilizando ao telespectador, por exemplo, fotos exclusivas de determinada gravação de cena (como uma cena de uma festa de uma novela). “A Globo chegou a personalizar o Ginga, mas será que isso é interessante? São decisões que as emissoras precisarão tomar para não deixar de fora o que acontece nas redes sociais”, ponderou.

Na opinião de Tavares, o próprio conceito de televisão ficou difuso nos últimos anos, sobretudo quando se pensa na programação das emissoras. “Muita gente já tem condenado o conceito de grade de programação, mas, o que é veiculado pela TV tradicional ainda é responsável por mais de 50% da audiência. Saímos de uma limitação técnica para a TV ao vivo e migramos para um momento em que esse tipo de conteúdo se torna uma estratégia de continuidade do veículo. Há, também, um aumento da média diária de consumo de televisão no Brasil e, em 2016, por exemplo, a televisão ficou com 53% do bolo publicitário no país.”

Álvaro Bufarah, coordenador do curso de Pós-graduação em Produção Executiva e Gestão da FAAP, foi convidado para abordar a convergência no rádio e lembrou que o veículo ainda é a mídia mais consumida no Brasil. “Falamos de uma série de tecnologias, mas o rádio ainda é a única mídia que chega a quase todo o país. Em algumas regiões e pequenas cidades em que a tecnologia não se faz presente, ele ainda é utilizado para oferecer recados simples à população”, lembrou.

Os brasileiros consomem, em média, quatro horas de programação radiofônica por dia, segundo o professor, mas as novas tecnologias estão mudando as formas como as pessoas interagem e os radiodifusores precisam se atentar a isso, pensando em um rádio multiplataforma. “O rádio multiplataforma é o futuro, um rádio que seja convergente, com múltiplos formatos e conteúdos, possibilitando uma maior participação do ouvinte. O ouvinte do rádio sempre foi interativo, desde quando as pessoas mandavam cartas às emissoras e aos anunciantes. Também é preciso trabalhar com audiências de vários níveis, pensando na cauda longa. É preciso maior investimento em pessoal, aproximação com as universidades, absorver a mudança de conteúdos, melhorar a interação entre veículos parceiros e players e aprimorar as formas de gestão. Uma revisão das leis trabalhistas e da lei da radiodifusão brasileira também é fundamental. Além disso, o investimento em pesquisas e a capacitação dos gestores também devem ser prioridades nas emissoras e na academia”, pontuou.

Acadêmicos brasileiros da área de pesquisa em Comunicação analisaram as mudanças na cadeia de produção audiovisual e radiofônica brasileira

A universidade precisa se abrir ao mercado e o mercado precisa se abrir à universidade, na opinião de Bufarah. “Essa barreira entre ambos não facilita para ninguém. Muitas vezes, por um rito, um profissional não pode ir a uma banca, por exemplo. Falta no Brasil um planejamento estratégico para que a universidade e o mercado estejam trabalhando em conjunto”, disse.

O professor Willians Balan, também da Unesp, concordou com Álvaro Bufarah e afirmou que, na área de comunicação, os cursos parecem estar formando mais profissionais para serem críticos do que para atenderem ao mercado. “A partir do momento que a universidade e o mercado se unirem, vai ser muito mais vantajoso para os alunos e para a sociedade.” As dificuldades para alterar a legislação e os projetos pedagógicos dos cursos também foram mencionadas por Balan. “A quantidade de profissões que surgiram também deve ser considerada neste contexto de convergência, sobretudo quando pensamos nas emissoras de rádio e televisão. A SET é um espaço em que essa discussão poderia ser retomada, para que haja avanço nas nomenclaturas das funções de acordo com a evolução das tecnologias”, ponderou.