TV aberta no Brasil na era dos conteúdos via internet

SET Sudeste 2017

A presidente da SET, Liliana Nakonechnyj, moderou o painel “Situação atual e futura da TV aberta no Brasil na era dos conteúdos via internet”, que contou com participações de Paulo Henrique Castro (Globo), Paulo Canno (Rede Gazeta), Sérgio Santoro (Record), José Chaves (Band) e Raimundo Lima (SBT)

por Gabriel Cortez e Fernando Moura

Liliana Nakonechnyj moderou o painel “Situação atual e futura da TV aberta no Brasil na era dos conteúdos via internet”. Antes de passar a palavra aos convidados, a presidente da SET destacou que o consumo de vídeo não-linear no mundo continua subindo, enquanto o consumo de TV linear desacelera, especialmente entre os millennials. “Ficam, então, algumas questões para tentarmos responder neste painel: como a TV aberta está posicionada no Brasil? Quando os jovens estiverem mais velhos, retornarão à experiência contemplativa de ver TV? Mais do que isso: vale à pena planejar o futuro multiplataforma? E, por fim, a transição para infra IP, o uso da nuvem e a migração do modelo de investimentos para o modelo de serviços será ou não inevitável?”, problematizou.

Sérgio Santoro (Record) lembrou que a televisão aberta brasileira cobre quase 100% dos domicílios no país, com 67 anos de atuação, enquanto o acesso à banda larga ainda é restrito a poucas cidades. “Embora se fale muito da tendência ao OTT, ainda há um caminho muito grande a ser percorrido nessa área”, pontuou

José Chaves, diretor de engenharia e tecnologia da Band, acredita que o perfil do consumidor e o comportamento do telespectador, de fato, vêm se alterando. “Antigamente, a audiência era passiva. Hoje, o cara quer postar, quer atuar. Esse modelo que vem nos dando sobrevida há quarenta anos pode sucumbir nos próximos dez ou quinze anos, ou não. O nosso grande desafio é transformar o que sempre fizemos em algo que seja adequado a esse novo público. O conteúdo é o rei nesse contexto. Se o conteúdo for acertado, com uma grande ideia e um excelente trabalho de engenharia e operações, o público responde bem”, frisou.

A fidelização através de uma comunicação mais acentuada e direcionada e a utilização de recursos como a interatividade e as possibilidades da TV digital foram apontadas por Paulo Canno como soluções às emissoras regionais para o momento de crise

Os investimentos em infraestrutura também serão diferenciados daqui para frente, de acordo com o palestrante. “O que a gente compra hoje são licenças de players. As fitas e os VTs, por exemplo, estão obsoletos. A Band já é tapeless há nove anos. A evolução dos sistemas de transmissão e dos formatos é outro aspecto ao qual devemos nos atentar. O ATSC 3.0 já parte da internet sem fio, da banda larga e de transmissões que mesclam broadcast e broadband”, pontuou.

Sérgio Santoro, da Record TV, lembrou que a televisão aberta brasileira cobre quase 100% dos domicílios no país, com 67 anos de atuação, enquanto o acesso à banda larga ainda é restrito a poucas cidades. Apenas 37 municípios concentravam 50% do uso de banda em 2016. Além disso, em julho de 2017, os 27,9 milhões de acessos à internet no país foram realizados de apenas 40,98% dos domicílios brasileiros, de acordo com o executivo. “Então, embora se fale muito da tendência ao OTT, ainda há um caminho muito grande a ser percorrido nessa área. As emissoras e as grandes redes vivem um momento para melhorar as suas soluções e atender a esse segmento que ainda engatinha no país”, argumentou.

Paulo Henrique Castro, diretor de tecnologia, pesquisa e desenvolvimento da Globo, mostrou-se incomodado com a semântica do termo “morte” da televisão e, assim como Santoro, também relativizou a expansão do OTT no país. “Se os dados apontam um aumento no OTT, pode ser que os conteúdos exibidos On- Demand sejam produzidos pelo que conhecemos hoje como emissoras de televisão ‘tradicionais’. Além disso, a TV aberta ainda fala com a massa. Quando, por exemplo, o Faustão falou o número da Seja: Digital em um domingo, houve problema pois a central da EAD não estava preparada para receber tantas ligações”, ponderou.

O executivo mencionou, então, a teoria da cauda longa e afirmou que as pessoas ainda conversam muito sobre o que está na TV aberta, apesar de os interesses de nicho também crescerem. “É muito desagradável quando saímos e conversamos sobre uma série, por exemplo, e as pessoas estão em estágios diferentes, ou não querem saber do que você assistiu porque ainda não viram aquele determinado episódio. O conteúdo em real-time, as novelas e o jornalismo ganham força na TV aberta neste contexto, reforçando a sua característica massiva. Eu acho que há espaço para todos, porque qualquer meio de distribuição que se baseia em assinatura, no longo prazo, precisa mostrar valor. O broadcast ainda é muito eficiente e, por isso, eu não fico tão preocupado com essa questão do ‘vai acabar’”, ponderou.

Os algoritmos estão começando a oferecer às emissoras possibilidades de descobrir quais intermediários agregam valor para a massa, segundo Castro. “Repensar processos e estruturas é fundamental. Mas, precisamos lembrar que o país passa por um momento de recessão. A era de ouro não só da televisão, mas de quase tudo, está acabando. Estamos chegando em um momento em que as empresas já começam a analisar os dados da pessoas. A inteligência artificial ajuda em uma revisão dos processos. Além disso, trazer os jovens para essa discussão é fundamental! São eles que vão trabalhar nessa revolução. Não podemos deixá-los entrar nessa vibe de que a TV vai ‘morrer’. A mágica da TV ainda tem um valor muito grande”, concluiu.

Raimundo Lima, diretor de tecnologia e operações do SBT, concordou: “Eu acredito na TV aberta. A nossa capacidade de sobrevivência está ligada ao entendimento do que o telespectador quer, buscando incorporar essas demandas. Temos uma plataforma de um para muitos e, do ponto de vista do modelo de negócios, isso ainda é fundamental. O que precisamos fazer é perceber quais são as novas demandas e adequarmos as nossas plataformas a essa realidade. Por mais que Netflix e Amazon venham com conteúdos inéditos, nós broadcasters ainda temos capacidade de produzir material interessante. É isso que sustentará a televisão aberta”, frisou.

Paulo Canno, SET/TV Gazeta, apresentou a situação das afiliadas neste ambiente multiplataforma e destacou que, nestas emissoras, a realidade é diferente da realidade das cabeças de rede. “Com mais de três décadas vivendo a realidade das afiliadas, a gente sabe que a geração de conteúdo restringe-se ao telejornalismo local. Mas, este conteúdo não é suficiente para manter a atenção do público que fica zapeando por muito tempo, o que faz com que as afiliadas dependam muito do conteúdo das ca-beças de rede para sobreviver e para concorrer nesse mundo digital.”

O custo dos investimentos que têm sido necessários por conta do switch-off analógico e da revolução tecnológica pode ser fatal às afiliadas, na opinião de Canno. “A audiência das afiliadas até tem aumentado nos últimos anos para algumas empresas. O problema tem sido a receita, que tem caído de forma sistemática. A audiência demanda mobilidade, um conteúdo diferenciado e não-linear, além de interatividade (comentar, votar, etc.)”.