SET EXPO 2019 Impressões positivas e convergentes

SET EXPO 2019 – O OLHAR DOS ESPECIALISTAS

Enquanto na NAB encontramos um retrato do mercado norte-americano e internacional da televisão broadcast,  em São Paulo participamos de um evento muito mais próximo das peculiaridades do mercado de televisão brasileiro e latino-americano

por Fernando Moreira

Transmissão streaming por LTE e por satélite, OTT, tecnologia nacional de restream, que permite reter os dados dos usuários, televisão IP, Inteligência artificial aplicada ao gerenciamento de arquivos, geração automática de legendas, novo tipo de tecnologia do offline para o online (tipo QR-code), áudio imersivo, o sonho do 5G, Big data e as métricas que só o streaming permite, as tradicionais tecnologias de broadcast digital, além disso algumas prévias de lançamentos do IBC, resumos da NAB e uma forte aproximação às novas realidades do mercado audiovisual por meio de soluções nacionais ou nacionalizadas, tornaram o SET EXPO e o 31º Congresso 2019 em experiências gratificantes. Enquanto na NAB encontramos um retrato do mercado norte-americano e internacional da televisão broadcast, no SET EXPO temos um evento muito mais próximo das peculiaridades do mercado de televisão brasileiro e latino americano.

O 31º Congresso de Tecnologia e Negócios de Mídia e Entretenimento – SET EXPO 2019, teve 2.000 congressistas que conferiram as mais de 80 horas de palestras

Dentre as mesas do Congresso algumas impressões foram marcantes, como um palestrante que lembrou que algoritmo é para auxiliar e não mandar na sua vida e que a inteligência artificial não substitui pessoas e que é sim uma ferramenta de contribuição, em outra, produtores de e-sports acabaram gerando uma dúvida, o que será mais fácil: a TV aberta ou a cabo se adaptar ao tipo de conteúdo, longo, sem duração fixa dos jogos online ou os games se adaptam a TV convencional, linear? Lembrei-me de dois exemplos que demonstram como existe espaço para todos, do tênis, sem duração determinada que é transmitido por canais fechados, e o vôlei que se adaptou com regras para reduzir o tempo de jogo e criou o breake para os anunciantes, no modelo do futebol americano, e ganhou espaço garantido na TV aberta.
Independente da solução o mercado de e-sports faz parte de uma indústria que gera mais de 1,5 bilhões de dólares, somente no Brasil e que ainda não encontrou exatamente seu espaço no mercado profissional audiovisual em nossa região, ou seja, é um nicho específico que merece ainda muita atenção.
Os painéis voltados especificamente às questões regulatórias e técnicas do setor demonstram os desafios que a engenharia tem pela frente, como por exemplo, a questão das frequências do 5G no espectro para serviços terrestres em confronto com o espaço para alguns dos serviços satelitais já existentes e ainda as faixas específicas para redes de transporte dessa tecnologia via satélite. Isso, ao que parece, pode causar um importante impacto social nos serviços de satélite na banda C que operam em frequências próximas ao utilizado pelo 5G. Esta banda de satélite é utilizada no Brasil pelas parabólicas que recebem os sinais abertos das emissoras e representam um importante público no interior do país, somente em um dos satélites que transmitem em Banda C, que é utilizado por pelo menos 20 emissoras de TV com sinal aberto para transmitir de forma analógica e mais de 100 canais dedicados a emissoras de TV e rádio com sinal digital, sem codificação, que podem, portanto, ser recebidos sem custo (Globo, SBT, Record, Band, Rede TV, TV Câmara, TV Senado, TV Brasil e TV Escola etc.). Esse desafio será muito maior e complexo do que foi a limpeza da faixa de 700 MHz, que estava inicialmente destinada aos canais públicos de televisão, quando a frequência foi vendida para os serviços de 4G, em 2014.

Startups que deram um show a parte com novas ideias, algumas ainda muito avançadas para nosso mercado em transformação

A feira
O SET EXPO 2019 é um exemplo de que no Brasil a TV Aberta terá longevidade maior. É que existem na verdade muitos Brasis para serem analisados, o Brasil do interior, da TV por satélite, gratuita ou não, das grandes cidades que, dependendo da região, parecem ter abandonado a TV aberta e da assinatura, mas consome os mesmos canais na TV a gato, por cabo ou App, e lembrando ainda que esse modelo unidirecional de televisão tem ainda uma sobrevida em função da complexidade das mudanças. Por isso, esse cenário ainda deve durar ainda por muitos anos, tomando como base que a TV Digital que demorou aproximadamente 20 anos para tornar-se realidade no contexto mundial, e que no Brasil e América Latina ainda existem muitas regiões em analógico.
O outro lado é a dificuldade de levar banda larga real (ainda que no conceito de banda larga tupiniquim) a todos os cantos do país, o que faz do Brasil um dos países com maior número de smartphones do mundo, sendo essa uma das únicas formas de acesso à internet de milhões de pessoas. Dessa forma temos um consumo audiovisual dividido por acesso à tecnologia e não apenas pautado por faixa etária e fatores socioeconômicos. Ainda assim, não são só os jovens que preferem assistir o conteúdo na forma sob demanda, na qual o usuário escolhe quando quer ver e nem o público mais velho ainda se contenta em assistir o modelo convencional de programação, com horário definido.
O que vai acontecer nos próximos anos nos fará observar uma mudança radical no mercado das mídias, porém como essa mudança está diretamente relacionada com a tecnologia da informação e suas possibilidades, sendo necessário aumentar a qualidade e oferta de acesso, e aí sim prever que as mudanças radicais poderão ocorrer em menos tempo. Isto pode ocorrer somente se houver mais investimento em infraestrutura para a área de informação e, então, poderemos ver a TV do Futuro cada vez mais conectada e os computadores cada vez televisivos, cada um com seu espaço, pois como disse o Prof. Fernando Moura, em sua exposição durante o Congresso, a TV não será somente uma tela, mas um tipo de central de alta velocidade para servir toda uma residência, servindo ao consumo audiovisual e a internet das coisas.
Voltando os olhos novamente para a Feira, foi possível perceber a presença de muitos jovens, a maioria das áreas de produção audiovisual em busca das novidades como câmeras e suportes voltadas para as gravações externas ou estúdios de pequeno porte que encontraram alguns fabricantes e representantes de grandes e pequenos players internacionais. Nesse ponto foi possível perceber uma tendência também observada na NAB, claro que em menor escala, de busca para as soluções voltadas às pequenas produções com câmeras robotizadas e sistemas de switcher/gerador de caracteres e player de vídeo integrados. Uma solução adequada para as TV’s Universitárias, igrejas, pequenos estúdios e para a nova modalidade das Rádios TV Web, um conceito novo, ainda não definido exatamente, mas que já tem na Jovem Pan de São Paulo, o maior player do modelo no país. Neste caso, a Rádio preferiu realizar grandes investimentos em estúdio, pessoal e tecnologia como a criação da Panflix, na verdade um conceito mais próximo da TV do que da Rádio convencional e que pretende inovar no audiovisual streaming.
O espaço SET Rádio foi um avanço no Congresso e mereceu um espaço específico com vários painéis, assim como a consolidação do espaço das Startups que deram um show a parte com novas ideias, algumas ainda muito avançadas para nosso mercado em transformação.
Para finalizar acho importante dizer que o SET EXPO não é só o maior evento de engenharia de televisão da América Latina, mas sim o grande espaço de encontro dos profissionais e acadêmicos da área audiovisual, e que a versão de 2019 demonstrou que está se adequando a esse novo cenário das indústrias que compõe os sistemas de informação e comunicação e atraindo novos grupos para as discussões setoriais, que agora afetam mais do que nunca todo um cenário produtivo, interligado, conectado e multifacetado, que necessita de espaços como o SET EXPO e o Congresso para juntar grupos que cada vez mais precisam interagir para a geração de novas formas de trabalho e colaboração em um cenário tão disruptivo e fértil que as novas tecnologias aplicadas ao mundo audiovisual estão gerando.

Fernando José Garcia Moreira é Doutor em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, pedagogo, publicitário, jornalista e empresário. Coordenador e Professor do Curso de Rádio e TV da Univap, Diretor da TV Univap, CEO da BML (Broadcast Media Lab), Presidente da Ass. Brasileira de Televisão Universitária – ABTU, membro do Conselho Diretivo da Asociación de Televisiones Educativas e Culturales Iberamericanas – ATEI, da Ass. Brasileira de Engenharia de Televisão – SET, da Broadcast Education Association – BEA, National Association of Television Program Executives – NATPE.
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