Futurecom 2019: 5G se apresenta com base das telecomunicações na nova década

Reportagem Especial

Claro, Ericsson e Globo realizam, em conjunto, o primeiro teste  de transmissão de vídeo em tempo real pós-4G com mochilink LiveU

por Fernando Moura, em São Paulo

A 21ª edição do Futurecom, maior evento de Transformação Digital, Tecnologia e Telecomunicações da América Latina, debateu algumas das principais inovações das telecomunicações no São Paulo Expo com presenças que foram desde o CPO da Netflix, Greg Peters, do ministro em exercício do MCTIC, Júlio Francisco Semeghin Neto, e ministro do STF, Dias Toffoli, até de CEOs das principais empresas do mundo, tanto de telecomunicações como infraestrutura.
No evento, o destaque foi para 5G, e com ele foram analisadas, demonstradas e expostas na feira aplicações que vão desde transmissões com um único chip de vídeo em 4K até soluções de IoT (internet das Coisas), e interferências de sinais satelitais. Nesse marco, ficou claro para à reportagem da Revista da SET, que nos próximos anos o 5G conviverá com soluções LTE/4G para dessa forma chegar a uma acomodação da indústria, tanto para o consumidor e as corporações, como para os desenvolvedores de tecnologia.

A Huawei e outras empresas mostraram o potencial do 5G e como se configuraria a infraestrutura de antes para seu desenvolvimento em grandes cidades

Em termos de implantação do 5G, José Otero, VP da 5G Américas para América Latina e Caribe, afirmou à reportagem da Revista da SET que estamos em um momento de transição. “A indústria está desenvolvendo tecnologias porque com o 5G o mundo vai ser mais complexo, mais digital e com isso, muito vai depender do tipo de serviços que sejam transportados por este tipo de tecnologia para definir processos”. De fato, para o executivo porto-riquenho, as mudanças serão substantivas, já que agora “será o usuário que vai decidir o que quer das empresas de telecomunicações ofereçam. Os pacotes serão de dados, e com eles, a indústria precisa ajustar-se ao consumo, ao contrário do que fez até agora, que devia ser o usuário a adaptar-se aos serviços”.
Quectel Wireless Solutions, fornecedora de módulos de celular e GNSS, pioneira na produção e nos testes piloto de módulos 5G ao redor do mundo, apresentou o seu módulo 5G, junto com um portfólio LPWA completo, que “permite a seus clientes maximizar experiências de conectividade”, disse Ricardo Simon, diretor de vendas Latam da Quectel.
A Quectel mostrou, ainda alguns dos produtos produzidos no Brasil. “Nossa planta fabril localizada em Manaus começou a produção neste semestre. A Quectel vê a América Latina e, em especial o Brasil, como locais estratégicos para a expansão de seus mercados e soluções para IoT”, comentou o executivo, para quem, nos próximos anos o LTE e o 5G coabitarão, sendo o primeiro usado para soluções individuais e ou 5G para corporações.

Transmissão 4K com chip 5G
Na área de radiodifusão, um dos cases principais, os primeiros testes de transmissão de vídeo em tempo real pós-4G realizados em conjunto pela Claro, Ericsson e Globo. A demonstração na Futurecom 2019 com mochilink LiveU mostrou a capacidade de transmissão de vídeo sobre rede móvel 5G
Para isso, as empresas utilizaram uma mochila da LiveU, com uma solução desenvolvida pela Claro utilizando a tecnologia 5G da Ericsson que conseguiu trafegar dados, vídeo e voz em altíssima velocidade, diretamente para um servidor de recepção 4K que também esteve no São Paulo Expo, a Globo participou com os testes.
Para a Claro, “é uma mostra do que o 5G será capaz de oferecer para os broadcasters e até mesmo para o usuário final. Temos em nosso DNA a inovação e o pioneirismo. Por isso, estamos muito satisfeitos com mais esta entrega, uma vez que, nesta Futurecom, o objetivo é tangibilizar algumas das aplicações que a quinta geração de internet móvel será capaz de efetivar”, explicou Marcio Carvalho, diretor de Marketing da Claro.
O diretor de Inovação Tecnológica da Claro, Luiz Fernando Bourdot, disse à reportagem da Revista da SET que o teste foi uma demonstração de futuro. “Criamos uma unidade móvel com um mochilink com apenas um chip 5G que transmite imagens em 4K 30p com codificação HEVC/H.265 que é levada da câmera ao LiveU 600 por meio de um cabo HDMI com uma taxa de transferência de até 20 MegaBits”.

Demonstrações de realidade virtual aumentada (VRA) chamaram muito a atenção dos visitantes

O LiveU 600 foi apresentado em 2018 no IBC , em Amsterdã, funciona com HEVC 4K-SDI da LiveU, como noticiado na edição N 181 desta Revista, “facilita o streaming 4K 50p/60p profissional para uma produção de alta qualidade (…) com extrema eficiência de largura de banda e usando uma das menores unidades de bonding celular portátil do mercado”. Assim, a companhia somou os recursos de roaming global integrados com o novo modem dual-SIM configurado com SIMs de roaming.

Rodrigo Oliveira, VP de Negócios da Ericsson para a conta Claro, afirmou no Futurecom que “esta é mais uma demonstração do alcance e impacto que o 5G exerce em diferentes setores, permitindo transformar toda a sociedade. Nossa ampla experiência na implementação do 5G — fomos pioneiros na ativação do 5G em quatro continentes e hoje já são 21 as redes 5G comerciais em funcionamento utilizando a tecnologia 5G da Ericsson — nos permite assegurar que a quinta geração de conectividade móvel habilitara a eficiência do país”.
Para a 2Live, parceria da LiveU no Brasil, “o entendimento vai ao encontro com o que a fabricante israelense defende ao longo da evolução das tecnologias 3G e 4G: proporcionar a melhor experiência em vídeo ao vivo do mercado, com inteligência de encoder, transmissão e distribuição. É uma oportunidade para mostrarmos que o cellular bonding pode ter um futuro próspero, mesmo com o 5G”, afirmou Eldad Eitelberg, diretor da empresa. Ele se referiu à soma da capacidade de múltiplos modems de telefonia celular para tráfego de vídeo.

Rosalvo Carvalho, diretor Geral da Videodata, participou do Futurecom 2019 com o objetivo de gerar novas parcerias focadas em Inteligência Artificial

Teoricamente com apenas um modem 5G, o usuário teria uma alta capacidade de banda. “O bonding dá confiabilidade e segurança ao sistema, protegendo de quedas naturais que podem ocorrer a um único SIM-card”, acrescentou Eitelberg.

OTTS
Greg Peters, Chief Product Officer (CPO) da Netflix, apresentou a filosofia do OTT e destacou a produção de conteúdos locais que são apreciados por milhões de pessoas ao redor do mundo, e afirmou que a Netflix vai investir R$ 350 milhões em 30 produções brasileiras até 2021.
“O Brasil tem histórias que o mundo todo quer conhecer”, explicou Greg, e disse que desde que a Netflix começou a produzir conteúdos nacionais, já gerou 40.000 empregos indiretos no país. “Nós somos apaixonados por contar histórias e transmiti-las de maneira que as pessoas possam assistir quando quiserem e de onde quiserem. Isso só pode ser feito por intermédio da tecnologia”.
Em conteúdo local, a Watch Brasil anunciou que cresceu em 2019 além das expectativas, alcançando mais de 40%, e que por este motivo, terá backoffice novo, com ecossistema de Apps focado em melhorias de interface e na experiência do usuário (UX/UI). Maurício Almeida, cofundador da Watch Brasil, disse que a empresa começou em outubro de 2018 e de lá para cá “conquistou 140 provedores regionais (ISPs – Internet Services Providers) como clientes – nossa meta para este ano era de 100 ISPs. Também estamos nos consolidando com títulos exclusivos, uma das grandes necessidades de empresas de streaming. Neste mês lançamos com exclusividade os conteúdos da Awesomeness para o Brasil, marca criada para a Geração Z com dezenas de títulos, entre séries e filmes. Ao mesmo tempo, novos players importantes entraram no mercado e tivemos que redefinir algumas estratégias”.
Almeida afirmou, ainda, que as estratégias de ação para o modelo marketplace, anunciadas como iniciativa da versão 2.0 da plataforma, são fundamentais para o futuro da solução de streaming de vídeo brasileira. “A Watch Brasil nasceu com a proposta de ser um agregador de conteúdo e criar um marketplace para estúdios trazerem seus conteúdos. Já oferecemos no modelo o maior aplicativo infantil, o Noggin, no entanto, o mercado do streaming cresceu muito e vem mudando em rápida velocidade. Queremos entender melhor qual será a estratégia de companhias como ESPN e FOX, por exemplo, ambas da Disney, principalmente após o lançamento da Disney+”.

Sandro Barros, diretor regional do Brasil e Cone Sul da SES Networks

Satélites e antenas
Sandro Barros, diretor regional do Brasil e Cone Sul da SES Networks, disse à reportagem da Revista da SET no estande da empresa no Futurecom que em 2021 estará disponível o sistema de comunicações MEO O3b mPOWER, o que trará enorme escala e flexibilidade globalmente, já que “permitirá a distribuição de sinal para lugares remotos com ultra baixa latência gerando ubiquidade, mobilidade e maior cobertura”.
Para o executivo a experiência da empresa em plataformas de Medium Earth Orbit (MEO) será fundamental na expansão do 5G já que permitira desenvolver soluções personalizadas dentro do ecossistema da SES. “Cada vez mais as soluções satelitais devem ser transparentes para o cliente”, porque “precisamos agilizar e dar liberdade de engenharia simplificando os processos”, já que “saímos da escala de GigaBits para TetaBits e nesse sentido, precisamos de feixes dinâmicos que possam aumentar o diminuir os bins, baixar o aumentar potência segundo a comunidade de antenas ou necessidades do cliente”.
Para Barros, devido ao seu alcance, o satélite, pode ir a qualquer lugar, mesmo para lugares que a conectividade terrestre tradicional não pode alcançar, até mesmo “plataformas móveis”, como aeronaves, veículos de passageiros ou trens de alta velocidade. “Portanto, uma solução de satélite pode garantir onipresença para a arquitetura 5G”, finalizou.
Nesse contexto, a RFS – Radio Frequency Systems apresentou uma APA (antena passiva-ativa), solução que permite às operadoras implantar hoje uma antena passiva e depois fazer o upgrade para suportar a frequência 3.5 GHz mMIMO. Dessa forma, é possível evoluir gradativamente para a futura rede 5G, sem comprometimento na performance do produto, minimizando custos adicionais de infraestrutura e instalação. “Essa solução vai ao encontro da necessidade das operadoras de evoluir rumo ao 5G, sem ampliar o número de antenas em sites já lotados ou com aumento dos custos de locação, garantindo também menor impacto visual”, afirmou Wilson Conti, VP de vendas para a América Latina da RFS.

Tecsys do Brasil fez a sua estreia na área de exposição do Futurecom

Empresas nacionais
A Tecsys do Brasil fez a sua apresentação no Futurecom com soluções customizadas de Smart Grid e comunicação com destaque para os sensores de falta e perdas até 69KV, monitor de base fusível (Koala) com tecnologia Sigfox, além dos monitores de BT (baixa tensão) e MT (média tensão). Ainda, o novo modem 3G/4G/CAT-M para uso no mercado profissional, e os rádios P2P com tecnologia WiSun. O rádio digital, explicou Tom Jones Moreira, coordenador de engenheira da empresa e revisor técnico da Revista da SET, “é um módulo de comunicação para enlaces ponto a ponto em grandes distâncias, que traz como inovação o uso do protocolo IEEE 802.15.4 implementada na camada física. Opera nas faixas ISM SUBGHZ ou 2.4Ghz, com nível de potência configurável e modulação GFSK ou OFDM”.
Seal Telecom apresentou plataformas de inteligência artificial em vídeo-monitoramento e realidade aumentada, entre outras soluções. A integradora demonstrou soluções de diversos tipos que avançam para projetos tanto OPEX como CAPEX, mas que trabalham detalhadamente situação de pré-venda e pós-venda onde “a qualidade do serviço prestado ao cliente antes, durante e após a venda devem ser centrais”, disse à reportagem, Cristiano Felicíssimo, diretor de Pré-Vendas da Seal Telecom. Para o executivo, “o futuro da indústria passa por soluções anywhere office onde sejam implementados diferentes modelos de integração, sejam OPEX ou CAPEX. Precisamos brindar alternativas aos clientes que não tenham tanto efetivo nas suas finanças. O modelo deve ser definido pelo integrador e os seus parceiros tecnológicos, que contemple o SaaS (Solutions as a servisse), e entenda e se adapte a necessidade do cliente e o seu projeto”.

Cristiano Felicíssimo, diretor de Pré-Vendas da Seal Telecom

Assim, destaque no estande Seal Telecom, para o Vijeo 360, um software de realidade aumentada para dispositivos móveis que usa a câmera do dispositivo para reconhecer e sobrepor dados e objetos virtuais em tempo real. “O Vijeo 360 é extremamente flexível, permitindo o acesso a informações direto no tablet ou celular otimizando custos nas áreas de design e engenharia, além de reduzir o tempo e o perigo nas operações de manutenção”, disse o executivo.
Finalmente, a Shure demonstrou produtos de captação de áudio por tecnologia IP, microfones discretos, como o MXA910, utilizado principalmente em salas de reunião, “Realizamos demonstrações de produtos que integram qualquer solução de colaboração – seja hard codecs ou soft codecs”, afirmou Didiê Cunha, especialista sênior em Desenvolvimento de Mercado. “As soluções da Shure são dotadas de criptografia tanto na transmissão sem fio, quanto no transporte de áudio em rede, o que garante a segurança imprescindível nos dias de hoje.”

Ricardo de la Guardia, Gelson Hernandes, Patricia Pereira e Mark Ryant, equipe da CommScope no Futurecom 2019

António Nunes, CEO da Angola Cables

Cabos submarinos
Pela sua vez, a Angola Cables e Malaysia Telekom Global anunciaram a realização dos testes finais em rota única para a Ásia, um projeto piloto que tenta alavancar dois sistemas de cabos: o SAFE, que conecta a Malásia à Angola, e o SACS que conecta a Angola ao Brasil.
Os testes fazem parte do acordo com a TM Global, braço da Malaysia Telekom Berhad, que contempla a implementação de uma rota expressa “Sul-Sul” de cabos submarinos vindos da Ásia conectando diretamente à África e à América do Sul. Em entrevista com à reportagem da Revista da SET, António Nunes, CEO da empresa, disse que a rota pode facilitar muito o tráfego de sinais de vídeo entre o Brasil e África e quando o cabo submarino conecte com a Ásia pode ser uma solução rápida e com bom custo-benefício para os operadores. “Hoje temos latências baixas para as rotas de São Paulo e Fortaleza para Angola que vão dos 63 aos 106 milissegundos que podem ser uma excelente opção para tráfego de vídeo”.
O projeto piloto – já em fase final – da uma rota expressa “Sul-Sul”, disse Nunes, pretende alavancar dois sistemas de cabos: o SAFE (The South Africa Far East Cable System) da TM Global, que conecta a Malásia à África do Sul e o SACS (South Atlantic Cable System) propriedade da Angola Cables, conectando Angola ao Brasil.