Entidades do setor solicitam adiar o switch-off em São Paulo

Radiodifusores paulistas questionam desligamento da TV analógica, marcado para o próximo 29 de março de 2017, porque estima-se que faltarão distribuir quase um milhão de kits de TV digital na região até esta data

por Fernando Moura em São Paulo

A Associação das Emissoras de Rádio e Televisão do Estado de São Paulo (AESP), juntamente com a ABERT e a Seja Digital (empresa responsável pelo desligamento da televisão analógica em todo o Brasil), realizaram uma coletiva de imprensa na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), para analisar o processo de desligamento do sinal analógico da televisão da Região Metropolitana da capital paulista, que está previsto para o dia 29 de março de 2017, mas cogita-se a hipótese de adiar o switch-off pelo menos até fi-nais de junho deste ano.
Na coletiva de imprensa, realizada na manhã de 22 de fevereiro na sede da FIESP, na capital paulista, Paulo Machado de Carvalho Neto, presidente da AESP, Luis Roberto Antonik e André Dias, da ABERT; Patrícia Abreu, da Seja Digital; e Sandro Almeida Ramos, da Anatel, explicaram aos jornalistas os prós e contras de desligar o sinal analógico da TV na maior cidade de América Latina no fim de março.
“Nós radiodifusores somos intransigentes, se não chegarmos aos 93% de cobertura da TV Digital, não há solução e não poderemos desligar o sinal. Por isso, achamos que é temerário que o Governo Federal mande desligar São Paulo em 29 de março, com mais da metade dos beneficiá-rios sem ter recebido o kit de TV Digital”, afirmou Luis Roberto Antonik (ABERT). E reforçou ante a pergunta dos jornalistas presentes: “Concordamos com as Telcos em adiar o desligamento até finais de junho de 2017. A decisão do Ministro Gilberto Kassab será muito difícil e temerária”.

Olímpio Franco (SET) e Patrícia Abreu (Seja Digital) na coletiva de imprensa realizada na sede da FIESP em São Paulo

Isso porque, em princípio, deve-riam ser entregues 1,870 milhão de kits de recepção na capital paulista e na zona metropolitana. “E pensamos que em 29 de março faltarão distribuir uns 900 mil, talvez um milhão de kits na Capital”, disse Antonik. “O que é um número muito alto”.
Patrícia Abreu, diretora de Comunicação da Seja Digital, afirmou que no final de fevereiro a entidade terá entregado “um número de mais de 600 mil kits”, o que representa mais de 30% do total. “Temos agenda marca-da até o fim de março que chegam a quase um milhão de kits”. Mas ela ad-mite que em São Paulo haverá problemas, pois, a meta é um milhão e cem mil kits na capital e mais de 700 mil no entorno.
Patrícia Abreu disse que hoje a Seja Digital possui 59 centros de distribuição. “Temos a hipótese de entregar mais de 130 mil Kits por semana, nossa ideia é aumentar a agenda e colocar mais gente para distribuir”. Segundo ela, no entanto, os kits não estão todos prontos. “Estamos entregando à medida que chegam”.
Ainda sobre a possibilidade de adiar o switch-off em São Paulo, Antonik disse que as teles – Claro, Vivo, TIM e Algar – solicitaram ao Governo Federal que o desligamento passasse de final de março para o final de junho porque a quantidade de kits que têm de ser entregues à população é absurda, mas o Governo negou a solicitação. “Nós, radiodifusores, não queremos adiar. Estamos pagando dois transmissores – um analógico e um digital – não podemos continuar assim, mas a realidade é que não temos os kits entregues. Na Capital temos problemas de falta de equipamento para distribuir, no entorno de São Paulo estamos distribuindo muito bem. Em Mogi das Cruzes – interior de São Paulo –, por exemplo, vamos cumprir a nossa meta. No entorno chegamos com um bom número, na Capital será menor porque não temos o equipamento para entregar”.

Luis Antonik (ABERT) afirmou à imprensa que o mais lógico será adiar o desligamento analógico da TV para finais de junho de 2017

Sandro Almeida Ramos, diretor regional da Anatel em São Paulo, presente na coletiva, afirmou que em 22 de fevereiro de 2017 “não é possível pensar de maneira simplista”. “Pensamos que São Paulo vai cumprir as expectativas. Há uma expectativa da Anatel de que será desligada a TV analógica em São Paulo na próxima quarta-feira, 29 de março, e será realizada com sucesso”.
Na coletiva eles explicaram como as emissoras de TV analógicas de São Paulo e de mais 38 cidades da Região Metropolitana devem estar atentas às inserções com as informações sobre o desligamento da TV analógica, previstas na Portaria 378/2016 do MCTIC.

Desafios em São Paulo
Os representantes da ABERT, AESP, ANATEL, SEJA DIGITAL e emissoras, reunidos na FIESP, concordaram que desligar a maior metrópole de América Latina não é tarefa fácil, mesmo que ela tenha sido a primeira a ter sinal de TV Digital quando foi introduzida no país em 2007.
André Dias (ABERT) disse que o “cronograma urge com três clusters muito grandes que envolvem até 28 de março de 2018: a capital paulista, depois Campinas e a grande Campinas (27/09/2017), e Bauru, Presidente Prudente e São José do Rio Preto, em março de 2018. Para dar conta desse esforço foi importante o trabalho com o Senai, para que os alunos da instituição ajudassem aos telespectadores a avançar para a resintonia digital. Por isso o trabalho em conjunto foi fundamental”.

O diretivo da ABERT, Luis Antonik, se mostrou preocupado com o desligamento analógico não porque as televisões não tenham cobertura digital, mas sim pela falta de receptores para ser entregues a população de São Paulo e sua área metropolitana

Para Dias, a população tem de pas-sar por três processos para entender a digitalização: o processo de conhecimento, o processo de compreensão, e o processo de alerta. “Uma vez cumpridos, o telespectador tem de entender que se não se converte ao digital, ficará sem TV. Hoje estamos na última etapa de desligamento. Por isso, um dos principais problemas de quem recebe ou compra o kit é que não sabem a busca de canais, eles não sabem fazer a resintonia e, com ela, não sabem o que podem ver, nem como. As pessoas têm uma TV muito velha, mas quando entra a imagem da TV Digital, com melhor som e melhor áudio, choram porque percebem que a sua velha TV pode ter um bom sinal. Nesse sentido, nós não achamos que as pessoas tenham de comprar uma nova TV para ter TV Digital, o que elas precisam fazer e ter um receptor digital, o que não é o mesmo”.

Muita expectativa por parte das emissoras de TV de São Paulo para saber se efetivamente o sinal da TV analógica será desligado na próxima quarta-feira, 29 de março de 2017

Patrícia Abreu disse que um dos maiores desafios do Seja Digital foi chegar a territórios onde se é “estrangeiro”. Para isso tem sido fundamental a realização de um trabalho de base. “O trabalho com os antenistas é fundamental para mostrar para eles que é uma boa oportunidade de negócio”, diz. “A parceira com os governos municipais é fundamental, por isso trabalhamos diretamente com eles e junto a eles, com corpo-a-corpo com a população. Nos territórios somos estrangeiros, e nos locais temos de trabalhar com os influenciadores e, a partir deles, precisamos engajar os formadores de opinião local e trabalharmos juntos.
Somos estrangeiros porque nem sempre entendemos as necessidades dessa população específica”.
Patrícia destacou: “O trabalho conjugado entre a radiodifusão e a Seja Digital tem gerado bons frutos. Estamos aqui neste ponto do processo pelo trabalho realizado por todos os setores, um processo de grande integração nesta caravana pelo país que a entidade está desenvolvendo”.
De todas as formas, como referiu Antonik, tudo dependerá ainda da pesquisa de aferição de recepção, que será revelada no dia 26 de março. “Se alcançarmos os 93% da população vamos desligar. Em 30 de janeiro chegamos aos 85%, por isso temos uma perspectiva de chegar a esse número para podermos desligar, mas ainda temos uma margem de quase 10%, ou seja, mais de 700 mil famílias, sem recepção digital”.

Kit de recepção de TV Digital

© Foto: Seja Digital

O kit é composto por uma antena, um conversor do sinal analógico para o sistema digital, e um controle remoto. Ele deve ser ligado em televisões que não tenham receptor de sinal digital integrado. As famílias cadastradas nos programas sociais do governo federal têm direito a receber gratuitamente os conversores. Os kits, informou a Seja Digital, serão distribuídos até 45 dias após o término do sinal analógico na capital paulista, como aconteceu em Brasília, primeira capital a realizar o switch-off.
O Kit será gratuito para as famílias beneficiárias do programa  Bolsa Família e do Cadastro Único de Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico). As inscrições para receber estes kits podem ser feitas pelo telefone 147 ou pelo site:  www.vocenatvdigital.com.br