Empresas do setor apontam a serviços de Banda KU para evitar interferência do serviço móvel em 3,5 GHz e desenvolvem estratégias para aprimorar streaming

por Fernando Moura

Sergio Chaves, diretor de Negócios da Hispamar, afirma que a solução passa por uma frequência BBS, exclusiva para vídeo, mas a mudança é grande porque deverá ser mudado todo o parque de antenas

O 31º Congresso e o SET EXPO 2019 foram um momento importante para que as operadoras e emissoras de televisão brasileira debatam como evitar a interferência do sinal móvel em 3,5 GHz e colocar como opção a utilização de serviços satelitais em banda KU para distribuição de sinais DTH (Direct to Home).
Isto porque no 31º Congresso de Tecnologia e Negócios de Mídia e Entretenimento se debateu no painel “Leilão de 3,5GHz e o Futuro da Distribuição por Satélite”, a coexistência de serviços de banda 3,5GHz com a banda C satelital, e os desafios desse processo que pode acabar com a distribuição de sinal às parabólicas que hoje se faz em banca C. Vale lembrar que segundo dados do IBGE, o Brasil tem aproximadamente 22 milhões de residências com antenas parabólicas, das quais 10,5 milhões só acessam a TV por este meio, serviço que poderá ser impactado diretamente com a utilização da banda 3,5GHz.
No painel, Wender Almeida de Souza, assessor técnico da Abratel (Associação Brasileira de Rádio e Televisão) disse que as empresas reunidas na Associação consideram como solução a migração da banda C para a banda Ku, uma solução provocada pelo impasse no leilão de 3.5 GHz. Souza destacou a inviabilidade ora técnica, ora financeira do processo. “Os aparelhos que possibilitam a coexistência quando são tecnicamente viáveis, não o são financeiramente e vice-versa. Essa convivência pode não ser muito amigável. Boa parte dos nossos problemas estão nos grandes centros. Há custos e viabilidade técnica envolvidos. A migração para a banda Ku é a melhor opção”, explicou.
Anatel presente no painel apresentou um cenário mais promissor em relação às consequências do leilão, previsto para março de 2020, já que o considera a porta de entrada para a chegada da tecnologia 5G ao país. “A faixa 3,5GHz é necessária para a entrada do 5G. Tivemos até aqui uma internet voltada para pessoas, que buscam se comunicar. Agora vem uma revolução: a internet das coisas. A comunicação entre máquinas, que possibilitará cidades inteligentes, cirurgias à distância e muito mais. Isso vai impactar no desenvolvimento da economia. Prevemos um leilão menos arrecadatório e que preze mais pela abrangência”, afirmou Vicente Bandeira de Aquino Neto, membro do Conselho Diretor da Anatel.
Para Vinicius Oliveira Caram Guimarães, superintendente de Outorga e Recursos à Prestação da Anatel, após testes de convivência em laboratório e em campo, a coexistência de serviços de banda 3,5GHz com a banda C satelital, a TVRO se mostrou possível a partir de algumas soluções, como troca de equipamento e assinatura gratuita de TV, troca de equipamento sob demanda, ampliação de rede terrestre, ajuste de corrente e migração definitiva de TVRO para banda Ku, disse.
Provedores de Banda Ku.
Como a Revista da SET antecipou em entrevista com Sergio Chaves, diretor de Negócios da Hispamar para a América do Sul, na edição 185, prévia a feira, os serviços de banda Ku BSS (Broadcasting Satellite Service) podem ser uma opção. De fato, na feira, Chaves reforçou a situação e disse que “a oferta de banda Ku no satélite Amazonas 5 agrega valor aos serviços prestados” e pode ser “estratégia para alguns clientes porque “possibilita o fornecimento de serviços triple play através da posição orbital, a 61° Oeste”, por esta ser “líder para serviços de transmissão de vídeo e de banda larga de alta capacidade”.
Chaves disse que a empresa está confiante, mas “ainda é uma oferta. A empresa acredita que se pode tornar um negócio porque a solução de 3.5GHz terá uma migração. Da maneira que funciona hoje, no futuro não funcionará, já que teremos algum tipo de interferência. Por isso acreditamos que uma solução que pode fazer sentido é a frequências exclusivas para vídeo por satélite, frequências BSS, que estão em banda Ku e estão longe de qualquer interferência”.
Pela sua parte, no estande da Eutelsat, o seu diretor-geral, Rodrigo Campos, reforçou a funcionalidade do novo satélite da companhia, o Eutelsat 65 West A que tinha realizado anteriormente (edição 185) a está reportagem. Campos disse que o foco da empresa passa por “trabalhar junto com nossos clientes para ajudá-los a fazer com que seus negócios cresçam, além de promover as soluções em que somos líderes junto a potenciais novos clientes”.
Para Campos, o satélite pode ser importante para as emissoras, já que trabalha em banda C planejada, banda que inclui a faixa entre 4.5 GHz e 4.8 GHz na recepção, frequências que estão “há mais de um 1Ghz da banda de 3.5 GHz que pode ser utilizada para o 5G”, o que ao seu ver, pode ser uma oportunidade. “A frequência do nosso satélite está menos exposta a frequências orientadas ao 5G/IMT e, consequentemente, a futuras questões de interferência. Nosso sinal não tem problemas de interferência, o que se constitui em uma vantagem importante”, explicou o executivo que considera ser fundamental, já que os clientes não precisariam trocar os sinais de banda C à Ku para evitar as interferências de sinal que o 5G poderia gerar.
Streaming e VoD
Outro dos pontos debatidos no Congresso foi como as companhias de satélite estão se adaptando para o crescimento do mercado VOD. Do debate parece ficar claro que um dos principais desafios para por oferecer preços competitivos e conectividade que possa suportar vídeo HD ou UHD. O diretor de Vendas para Broadcast da Intelsat, Marcelo Amoedo disse que “até 2020, 80% de todo tráfego de internet será vídeo”, e que deste percentual, 17% será ao vivo. Um dado importante já que para o executivo “os players precisam acompanhar as quatro principais tendências de mercado: força de acesso à nuvem, distribuição e contribuição sem interrupção, conectividade flexível, e entender o valor do vídeo”.
Pela sua parte, Jurandir Pitsch, VP de Vendas da SES, disse que “é interessante verificar a questão dos revenues. A TV por assinatura ainda está pagando a conta, e uma reação ao VOD são as companhias de mídia tradicional indo diretamente ao usuário final. O ponto é que se um usuário deixa a TV paga, mas pretende adotar todos os serviços de streaming, no final ele terá um gasto mensal maior”. Entre as soluções apresentadas, Ricardo Calderon, diretor Comercial da Eutelsat do Brasil apresentou a interface Cirrus, “uma solução end-to-end para clientes, que levou dois anos para ser desenhada. É uma plataforma que tem combinação tanto para DVB quanto OTT (IP) para segundas telas (smartphones, tablets, PCs)”. Foi desenvolvida para endereçar conteúdo a todo tipo de dispositivo e meio de entrega, seja ele cabo, satélite, 4G ou Wi-Fi. O App é totalmente customizável, white label, e permite personalização de logotipo, cor de fundo, cor do texto e lista de canais, finalizou o executivo.