Congresso SET EXPO analisa novos entornos de rede e o SET Innovation Zone desbrava o mercado

Congresso SET

 

Nesta edição da Revista da SET, finalizamos o resumo completo dos principais momentos da 29ª edição do Congresso de Tecnologia do SET EXPO. O evento debateu as tendências para mídia com mais de 1.400 congressistas e 200 palestrantes em cerca de 50 painéis que compuseram o maior congresso de engenharia e novas mídias da América Latina

por Fernando Moura* e Gabriel Cortez em São Paulo  

 

IPe novas aplicações se efetivam no mercado de satélites

“Temos trabalhado cada vez mais com os ecossistemas IP, e estamos nos transformando cada vez mais em uma empresa de vídeo IP, e não mais apenas de MHZ, apesar de o satélite continuar sendo o nosso negócio principal”, afirmou Jurandir Pitsch (SES)

 O painel “Soluções de próxima geração para TVs, OTTs e VODs com IP via satélite” expôs as novidades do mercado satelital em um contexto de crescente utilização das novas tecnologias IP para transmissão de áudio e vídeo. A sessão foi moderada pelo vice-diretor da Regional Sudeste da SET, Cristóvam Nascimento. A mudança do conceito de aluguel de MHz para prestação de serviços em Mbit/s, Mbytes e outros possíveis modelos de negócios e de condições contratuais também foram discutidos por representantes das principais operadoras de satélite no mercado.
Jurandir Pitsch, vice-presidente de vendas da SES, lembrou que, em maio deste ano, a empresa criou uma divisão específica para vídeo, com 900 profissionais. “Uma das razões dessa mudança é justamente tentar entender o que os usuários dos nossos clientes estão buscando. Temos trabalhado cada vez mais com os ecossistemas IP, e estamos nos transformando cada vez mais em uma empresa de vídeo IP, e não mais apenas de MHz, apesar de o satélite continuar sendo o nosso negócio principal”, disse.
A SES trabalha com mais de 60 satélites no mundo e opera em 130 países. “Em termos de vídeo, transmitimos mais de sete mil canais de televisão. São dois braços na SES Video, um de serviços satelitais, que estão cada vez mais migrando para o IP, e outro de contribuição e distribuição terrestre, que ainda é muito importante para nós. Apoiamos os organismos que desenvolvem os padrões do sistema UHD e percebemos uma dificuldade de nossos clientes para criar ecossistemas em UHD. Vários operadores de TV a cabo nos Estados Unidos já estão operando com o nosso ecossistema e estamos trazendo essa tecnologia para o Brasil. A SES faz todo o investimento para fazer a injeção dos canais para a região”, destacou.
Outra solução que a companhia desenvolve é uma plataforma de VoD híbrida. Pitsch explicou que os conteúdos são enviados já dublados ou legendados para a plataforma da SES em Munique, na Alemanha, e a própria SES instala as antenas e faz a gerência de rede, trabalhando por assinantes, a partir de um software desenvolvido pela divisão SES One, uma das divisões da empresa.

Ricardo Calderon (Eutelsat) explicou como é possível desenvolver soluções de transmissão em IP para impulsionar a utilização de satélites

Ricardo Calderón, diretor comercial da Eutelsat do Brasil, apresentou a frota global de satélites da companhia e destacou que a empresa vai lançar mais quatro satélites nos próximos anos. O executivo mostrou ainda duas novas aplicações desenvolvidas pela Eutelsat em um mercado que se transforma: um LNB que oferece canal de retorno com uma antena pequena que recebe e transmite pequenos sinais; e uma solução dedicada para dispositivos móveis que realiza stream em HLS e Dash. O sinal, no caso desta segunda aplicação, pode ser transmitido no padrão aberto ou fechado e protegido com DRM. “O conteúdo sob demanda é transmitido via satélite e storage localmente. É uma aplicação que já está sendo utilizada na Europa e mostra como o IP está sendo usado para transmitir vídeo via satélite. O mercado iTV é um dos mais conservadores do mundo, mas o IP está chegando e estamos precisando nos adequar a isso. As necessidades dos nossos clientes estão mudando e nós também”, afirmou Calderón.
Edio Gomes, diretor técnico operacional da Hispamar Satélites, pontuou que o mercado realmente está se transformando com a internet das coisas, o IP e outras demandas. “Mas, junto com essas transformações, surgem alguns mitos. O de que o VoD substituiria a TV linear é o primeiro deles. Quem assiste Game of Thrones sabe que isso não é verdade. O VoD complementa a Tv Linear. O segundo mito é que a segunda tela estaria substituindo a TV. Na verdade, quem usa a tecnologia móvel está assistindo mais a TV Linear, enquanto o público conservador continua assistindo em outras telas. Um terceiro mito se refere à qualidade, que continua sendo importante, como mostra a pesquisa da Ericsson. O último mito é que os millenialls não assistem TV linear. Eles assistem de tudo, inclusive TV Linear. Um evento esportivo não tem como fugir da TV linear, o que também ficou comprovado na Ericsson Consumer Lab 2016. O novo paradigma então inclui sistemas híbridos, multitela e vídeos com qualidade”, ponderou.

 

Marcio Brasil (Intelsat) analisou as inovações de contribuição com vídeo IP em multi-redes e com isso, como simplificar as operações de vídeo

Mauro Wajnberg, diretor geral da Telesat Brasil, mostrou como a companhia enxerga o futuro em IP e lembrou que as estatísticas indicam que 80% do tráfego da internet será vídeo nos próximos anos. “Está claro que o futuro é o IP, por isso, fomos discutir quais as melhores soluções de transporte. O satélite tradicional geoestacionário tem as suas vantagens e os seus custos, como a capacidade limitada. Um satélite geo consegue transportar 2 GB, enquanto um HTS nos possibilita entre 20 e 100 GB/s, oferecendo muito mais capacidade com pouco investimento a mais. Agora, um passo além na eficiência são os satélites de órbita baixa, uma constelação de satélites que orbitam ao redor da terra em torno de 1000 Km de altitude do globo. A capacidade desses sistemas é contada em TB/s.”

“As novas aplicações serão em IP, sim, mas também não podemos deixar de atender os clientes que possuem outras necessidades”, ponderou Geraldo Cesar de Oliveira (StarOne)

Os satélites LEO (Low Earth Orbit) apresentam uma latência menor do que os geoestacionários, segundo Wajnberg. “Para determinadas aplicações, isso é muito vantajoso. A nossa constelação cobre qualquer área a qualquer momento, com alta capacidade, o que não quer dizer que cobre o globo todo o tempo todo. São satélites de altíssimo throughput, baixo custo, conectividade global a qualquer lugar e a qualquer momento, plug-and-play, e segurança, pois se um satélite falha, outro o substitui. É um alternativa que mistura órbita inclinada e órbita polar. São 200 satélites em órbita inclinada (Inclined LEO) e 91 satélites em órbita polar (Polar LEO). Os beams podem ser fixos ou móveis, o que possibilita cobertura simultânea de mais de um satélite na mesma região. Os terminais remotos exigem antenas com capacidade para trackear mecanicamente ou eletronicamente. Estamos lançando dois protótipos para testes de conceito”, lembrou.
William Hemmings, diretor da Romantis Brasil, apresentou o projeto da companhia para transmitir conteúdo via LTE broadcast. O executivo mostrou o projeto sobre múltiplos canais de esporte trafegando via satélite até as ERB´s das operadoras de telecom, a partir de onde trafegam até o usuário final através da rede LTE Broadcasting que, na opinião de Hemmings, é adequada e concebida para trafego de vídeo com baixíssima latência. “A ideia é que o cliente possa selecionar a câmera em que gostaria de assistir determinado lance da partida. A tecnologia LTE broadcasting permite que televisores com placa LTE acessem os conteúdos, ou mesmo através de tablets e smartphones”, acrescentou.
Geraldo Cesar de Oliveira, gerente de produto da Star One, frisou que a indústria de satélite passa, sim, por um momento muito especial, não só sob o ponto de vista de aplicação, mas também do ponto de vista de tecnologia. “Quando a gente fala de IP e de novas tendências, falamos em comportamento de consumidor, de novas tecnologias, mas sobretudo de legado. Trabalhar com IP é difícil, mas, ao mesmo tempo, excitante. As novas aplicações serão em IP, sim, mas também não podemos deixar de atender os clientes que possuem outras necessidades”, ponderou. A tendência, na opinião do palestrante, são os satélites híbridos. “Na hora de decidir se investir em GEO Híbrido, Geo HTS, MEO ou LEO, é importante pensar no custo de fabricação, no custo de lançamento, do seguro, mas também, do segmento terra. Precisamos também acompanhar as necessidades dos nosso clientes de compressão de vídeo por exemplo, pensando em novas modulações aliadas à técnicas de compressão mais vantajosas”, argumentou.

O painel “Soluções de próxima geração para TVs, OTTs e VODs com IP via satélite” expôs as novidades do mercado satelital em um contexto de crescente utilização das tecnologias IP para transmissão de áudio e vídeo

Melhores práticas e novas fronteiras do vídeo OTT

“As pessoas querem participar dos programas e não mais só assisti-los”, afirmou Lucas Cabo (à direita), gerente de negócios da Flowicks, uma das dez empresas participantes da SIZ em 2017

A palestra moderada por Jose Salustiano Fagundes, CEO da HXD OTT Solutions, deixou claro que o audiovisual está mudando, e tanto que “entre 2010 e 2017, mais de 200 plataformas de vídeo OTT foram lançadas na América Latina e o Brasil, que já ocupa o 7º lugar em visualização de vídeos online e ainda possui espaço para crescer”, afirmou o executivo, quem reforçou que isto, tornou a região em um dos principais mercados para este segmento, com a presença de players locais e internacionais.
No painel foram apresentados o status atual de desenvolvimento, as melhores práticas e as novas fronteiras tecnológicas, como o uso das tecnologias de computação cognitiva. Para Fagundes, as mudanças no consumo audiovisual são notórias e reveladoras, o que falta é que “nas operadoras se entregue uma experiência e não apenas uma biblioteca de conteúdos”, porque “a TV está se transformando, mas continuamos apaixonados por ela. De todas as formas é preciso mudar as formas de produzir e criar conteúdos audiovisuais”.
Zalkind Lincoln, IBM Global Markets Technical Leader, afirmou que os dados gerados pelo consumo de mídia “estão crescendo rapidamente em volume, variedade e complexidade. Esses dados digitais podem ser o ativo mais valioso que a indústria possuí” por este motivo, é cada vez mais necessário que as empresas comecem a pensar em “uma computação cognitiva que permite alavancar os insights escondidos em todos esses dados e fazê-los úteis em descobertas, suporte à decisão e modos de interação com clientes”.
Masaru Takeshi, Advanced R&D Department, NHK Engineering System Inc. and NHK Science & Technology Research Laboratories, apresentou o “Panorama do Hybridcast no Japão”, o primeiro sistema do mundo em HTML5 com Integração Boradcast-Broadband (IBB), que segundo o executivo, desde o seu lançamento comercial em 2013, “mais de cinco milhões de receptores de TV foram implantados no Japão, e há mais de 20 emissoras oferecendo serviços por Hybridcast”. Isso porque o “Hybridcast é capaz de oferecer diversos serviços, incluindo segunda tela e VOD / streaming. Recentemente, o padrão MPEG-DASH está sendo usado para fornecer conteúdo audiovisual através da Internet. No Hybridcast, a entrega de conteudo em MPEG-DASH é padronizada pelo uso da técnica chamada Source Media Extension (MSE) que é um conjunto de APIs em JavaScript. Um software chamado “dashNx” foi desenvolvido para usá-lo em TVs onde os recursos de sistema são bastante limitados. “DashNx” pode ser usado em smartphones ou tablets, o que permite que os prestadores ofereçam seus serviços em segunda tela”. O executivo da televisão pública japonesa afirmou no Congresso SET EXPO que “o sistema permite uma seleção flexível de conteúdo, gerando publicidade direcionada e relação de conteúdos similares”.
Na palestra “construindo uma plataforma brasileira de OTT de vídeo”, Luiz Bannitz Guimaraes, diretor de Conteúdo e Negócios do Looke apresentou as lições aprendidas para criar e posicionar o Looke, uma plataforma brasileira lançada em 2015, no mercado de serviços de OTT de vídeo.
Guimarães disse que o mercado esta em experimentação e desenvolvimento, e que a plataforma Looke tem hoje mais de 10 mil títulos em catálogo, organizados em 19 categorias, com uma base de aproximadamente 600 mil usuários que acessam a plataforma por SVOD e TVOD para aluguel ou compra de vídeos. Atualmente promove ações para se consolidar entre o público brasileiro e para expandir seu serviço na América Latina.
“Nosso streaming é adaptativo, como na Netflix. Como a banda larga é ruim no Brasil, oferecemos também a opção offline, na qual você baixa o conteúdo no WIFI e assiste offline”, contou e reforço que “o serviço tem de ser impecável, evoluir e ter foco no usuário”.
O diretor de plataformas digitais do Globo.com, Marcello Azambuja, disse aos presentes que os lives streamings da empresa, sendo que o primeiro foi o do Big Brother Brasil, foram um grande desafio “em 2002. Em 2003, lançamos o primeiro OTT do Brasil, o Globo Media Center, e em 2005 transmitimos a final da NBA. Em 2010, na Copa do Mundo, o site fez pela primeira vez a transmissão em HD. E em 2014 fizemos o primeiro live stream com multicâmeras. Hoje, já temos conteúdo 4K disponível no Globo Play”, contou.
Já o Coordenador Centro Interdisciplinar em Tecnologias Interativas da USP, Marcelo Zuffo, afirmou que “OTT é simplesmente uma TV com um computador dentro”. O mercado de TV cresce 1% ao ano e o de TV online, 25%. Percebemos que a geração dos millennials praticamente abandonou a ideia de assistir TV em tela grande, migrando para os smarphones. A gente não sabe se esse comportamento vai mudar quando eles crescerem”.
Zuffo ressaltou que no Brasil a TV ainda é um meio massivo para o consumo de mídia, independente de idade, gênero, escolaridade ou renda, que 60% do público jovem utiliza redes sociais nos smartphones enquanto assistem TV, e que 64% dos brasileiros conectados à internet assistem TV ao mesmo tempo que usam redes sociais. “Digitalizamos a TV para ter espectro para banda larga móvel”, concluiu.

Imersão e engajamento no SET Innovation Zone

As experiências imersivas e o engajamento foram os conceitos definidores do SET Innovation Zone (SIZ) em 2017. A startup Flowicks foi uma das dez empresas que receberam destaque no pavilhão do SIZ na maior feira de broadcast e novas mídias da América Latina. “A Flowicks é uma plataforma de marketing digital e engajamento para grupos de mídia se conectarem com a audiência via redes sociais”, explicou Victor Machado, gerente da companhia para o mercado brasileiro.

A interação do público pelo Twitter no programa MasterChef, da Bandeirantes, é um dos cases mais representativos do grupo. “A grande sacada da nossa solução é que ela permite exibir conversas e interação em tempo real, com possibilidade de enquetes e votações. As pessoas querem participar dos programas e não mais só assisti-los”, afirmou Lucas Cabo, gerente de negócios da Flowicks, em entrevista à Revista da SET. A empresa argentina, com escritórios no Brasil em São Paulo e no Rio de Janeiro, foi uma das dez startups selecionadas pela SET para o Desafio SETup 2017.

Uma comissão julgadora selecionou as dez empresas com base em critérios técnicos pré-definidos pelos organizadores do Desafio. A Beenoculus foi outra das dez startups que concorreram ao Desafio SETup 2017 e expuseram as suas soluções no SET Innovation Zone. A empresa desenvolve software e hardware para conteúdos em VR 360. “A gente atua com a educação imersiva em primeira pessoa através de realidade virtual e realidade aumentada”, explicou Rawlinsson Terrabuio, cofundador da Beenoculus. “O nosso foco é a educação. É um novo meio para colaboração, uma forma imersiva de aprender.”

O SET Innovation Zone (SIZ) é um programa de fomento à inovação e às novas tecnologias. A iniciativa é permanente, aberta à sociedade e visa produzir conhecimento, atualização profissional e incentivo ao empreendedorismo na cadeia produtiva do audiovisual brasileiro, principalmente os novos negócios denominados startups. O SIZ é composto por várias ações, sendo a principal delas o Desafio SETup, no qual empresas startups voltadas para o audiovisual concorrem entre si para ter a chance de receber total orientação da SET, em parceria com o Sebrae, além de participarem da Feira SET EXPO, onde estiveram em contato com potenciais compradores e clientes. “A SET Inovation Zone é a materialização de um trabalho que a SET desenvolve online. É um projeto que cresce a cada dia, em um mercado de tecnologia e inovação que está sempre à frente”, destacou Edson Macheenzy, curador da SIZ, no Expo Center Norte.

Com colaboração da equipe de comunicação da SET Fernando Moura é professor Doutor do Centro de Linguagem e Comunicação (CLC) da PUC Campinas