Nascida como uma websérie, “3%” foi destaque das palestras da Campus Party

Reportagem Especial

por Fernando Moura, em São Paulo

O sucesso de “3%”, a primeira série brasileira no Netflix, uma ideia original que surgiu de um projeto feito por estudantes do Curso Superior do Audiovisual do CTR da ECA/USP, foi destrinchado no CPBR10. No painel, os diretores da série explicaram os desafios e comentaram as conquistas obtidas com a produção de 3%: aspectos de tecnologia e de linguagem audiovisual, e ainda foram abordados temas como a linguagem estética adotada, e com eles as suas distopias.
Conduzidos pelo professor Almir Almas (CTR/ECA/USP e SET), as diretoras Daina Liane Giannecchini e Dani Libardi e o roteirista Jotagá Crema explicaram como um projeto universitário passou a ser o primeiro conteúdo brasileiro financiado pela plataforma online.

O professor Almir Almas ( ECA-USP/SET) faz transmissão ao vivo enquanto modera uma das principais palestras do Campus Party com a presença dos diretores de 3%, a primeira série brasileira no Netflix

Dani Libardi afirma que o projeto existe porque a equipe teve o privilégio de entrar na universidade na era da Internet e isso mostrou a eles que o caminho não era só via TV ou cinema. “O piloto nasceu há 8 anos, teve muitas idas e vindas e hoje é uma realidade. Precisamos pensar como a tecnologia serve para contar histórias. Ela é nosso pano de fundo, nos ajudou a contar a história.”
Jotagá Crema disse à reportagem da Revista da SET que a tecnologia faz parte da série. “Por isso usamos uma câmera mais livre, mais documental. Posicionamos câmeras em função dos atores e não o contrário, onde primeiro se define o posicionamento da câmera e depois os movimento dos atores”. Gravada integral-mente com uma câmera Canon C300 e lentes zoom da Angelux, foi criada uma espécie de fluidez orgânica. “Assim obtivemos um resultado visual muito bom porque usamos sistematicamente projeções no set como ponte de luz, e por esse motivo os efeitos são poucos com respeito ao conteúdo da série, mas é muito porque é muita dramaturgia, foram oito capítulos. Mas sempre foi menos do que se esperaria de uma série hollywoodiana.”
Crema afirmou que as dezenas de horas de gravação foram realizadas sempre com as duas câmeras. Para termos sincronismo, e saber que estava filmando o outro cinegrafista, “eles utilizaram uma espécie de óculos de realidade virtual para permitir que tivessem liberdade de movimentos e não ficassem presos ao viewfinder da câmera”.
O roteirista de 3% afirmou que “para a NetFlix o conceito de arte é muito importante, por isso criamos dois mundos muito diferenciados que pudessem refletir bem as diferenças. O continente e o mar alto, tendo em conta que um é desenvolvido e outro é a miséria do continente e do mundo, uma miséria com vida e com cor”.
Ele lembrou que o projeto que nasceu em 2006 passou por diferentes fases. “Fizemos coisas para TV, o projeto foi para a TV Brasil, mas não avançou. Fizemos aí uma webserie para divulgar o projeto. Usamos outras formas de divulgação até descolamos uma reportagem numa revista norte-americana que despontou na realização da primeira série brasileira na Netflix. O caminho foi longo, mas conseguimos nosso sonho. Já esta em produção a segunda temporada da série”

Fernando Carlos Moura é professor do curso de Jornalismo da Escola de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Anhembi Morumbi (UAM)