1988: o ano em que nasceu a SET

Memória da Radiodifusão

Neste ano, mais precisamente em 25 de março, a SET – Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão completou 30 anos. São três décadas de muita história. Período que começou em uma época muito diferente da atual e de muitos avanços, boa parte proporcionada pela evolução da tecnologia, incluindo a área de radiodifusão e telecomunicações

 

por Elmo Francfort

Vamos então ligar nossa máquina do tempo, porém fazendo uma pausa no meio do caminho. A parada é na segunda metade dos anos 1990. Isso para lembrar que a SET já se empenhava na evolução da TV Digital e na definição de que padrão seria implantado no Brasil. Não é por acaso que a Associação está intrinsicamente ligada a esse momento histórico da televisão, na criação posteriormente do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD), e na oficialização do padrão nipo-brasileiro ISDB-T (hoje referência para outras nações do mundo). Para a sociedade em geral, alguns ainda acham que a TV Digital chegou apenas em 2007, outros só em 2017, com o switch-off da TV analógica. Porém, a cerne de todo processo é muito mais antiga, tendo a SET totalmente ligada a ele. Os engenheiros, sempre atentos às novidades do mundo, já a buscavam muito antes. A busca por melhores tecnologias vem desde o princípio da Associação, quando os profissionais passaram a se reunir para uma maior integração e diálogo. Por isso, nossa máquina do tempo vai mais longe. Há 30 anos, empresas, universidades, profissionais e acadêmicos de tecnologia e operações criaram este órgão, uma associação técnico-científica, sem fins lucrativos. O lucro, o benefício, quem ganhou foi nossa área e claro, o telespectador. Todos os avanços debatidos, na revista, nas feiras e congressos da SET, contribuíram para a evolução de uma das mídias mais respeitadas pelos brasileiros: a televisão.
A SET criou grupos de trabalho, abriu oportunidades para desenvolvimento dos profissionais de radiodifusão, promoveu encontros, apoiou o mercado, fez o analógico conversar com o digital, num convívio amigável para uma passagem progressiva de um para o outro. Quanta história em 30 anos!

Disparando então a máquina do tempo, vamos para 25 de março de 1988. Era um Brasil, um mundo diferente. Na presidência da República, José Sarney, concluindo o mandato iniciado após o período das Diretas Já e do Governo Militar. A grande luta era segurar a inflação. Isso atrapalhava muito o progresso de toda área. Como avançar no campo tecnológico se, todos os equipamentos comprados no exterior, eram caros diante da realidade orçamentária da maioria das emissoras? Já na criação, a SET priorizou um maior relacionamento com empresas internacionais, do setor de tecnologia, para as emissoras conseguirem encontrar as melhores soluções, em custo-benefício, na compra de novos equipamentos. A renovação era necessária. Vale lembrar que tínhamos apenas 16 anos de televisão em cores, a maioria dos canais eram em VHF e a TV paga ainda era algo a ser alcançado.
Naquela sexta-feira, 25 de março, o destaque dos jornais estava nas articulações dos governadores para realização de eleições presidenciais naquele ano, o que se deu apenas em 1989. Havia greve nos postos de gasolina, reajuste de mensalidades escolares e um possível “congelamento” da URP (Unidade de Referência de Preços), em tempos de Plano Cruzado.
Na música, o RPM divulgava o LP “Quatro Coiotes”. O grupo estava entusiasmado com um retorno, nesse no terceiro álbum, com suas 250 mil cópias produzidas inicialmente. Foi sucesso nas rádios.

“O Leopardo”. Na obra-prima de Luchino Visconti, Claudia Cardinale contracena com Alain Delon e Burt Lancaster (1963)

Já na televisão, os filmes de destaque foram “O Leopardo”, de Luchino Visconti, na Globo, e “Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse”, de Vicente Minelli, na extinta Manchete. Na Globo tivemos também o último capítulo de “Bambolê”, “novela das seis” que daria lugar a “Fera Radical”, na segunda seguinte. Já na Bandeirantes, a atriz Ruth Escobar, o publicitário Eduardo Fischer e a modelo Luciana Vendramini debatiam sobre beleza e vaidade no “Canal Livre”. Na Manchete, Nicole Puzzi era entrevistada por Celene Araújo em “Mulher 88”.

Um dos destaques de 1988, “TV Fofão”, na Bandeirantes

Além desses programas, no ar clássicos como “Clô Para os Ìntimos” (com Clodovil) e “TV Fofão”, na Bandeirantes; “Mulheres em Desfile” e “TV Mix”, na Gazeta; “Bambalalão” e “Eureka”, na Cultura; “Bozo”, “Show Maravilha” e “Noticentro”, no SBT; “Jornal da Manchete” e “Carmem”, na Manchete; “Defenda-se” e “Record em Notícias”, na Record; “Sassaricando” e “Mandala”, na Globo. O “Diário da Constituinte” era algo comum em todas as emissoras, pelo entendimento do telespectador ao que seria a nova Constituição promulgada naquele ano.

Naquele dia começava uma nova história. A SET era criada. Hoje, em seus congressos e feiras, são quase 15 mil profissionais que se encontram. Gente de todo mundo. Diálogo e aprimoramentos alcançados, além das fronteiras nacionais. São 30 anos da SET que, medidos pelos avanços tecnológicos, de lá para cá, representam uma evolução maior do que tudo feito desde o início do século XX. Esse foi apenas o início de uma grande história.
Esta foi nossa primeira coluna “Memória”. Escreva para nós, dê sua opinião e diga o que gostaria de ver nas próximas edições.

Continuará…

 

Elmo Francfort é radialista, jornalista, professor de Rádio, TV e Internet da Universidade Anhembi Morumbi, como diretor do Memória da Mídia (www.memoriadamidia.com.br). É Mestre e pesquisa comunicação desde os anos 1990. É autor de diversas obras sobre história da mídia, sendo que participa dos eventos da SET desde 1998. Escreva-me: [email protected]