TV por assinatura se esforça para não perder terreno

Quadro de maior concorrência obriga o setor a pensar em novos modelos de negócio

O Brasil é único país da América Latina a ter registrado retração na base consumidora de TV paga nos dois últimos anos. A clientela recuou de 18,7 milhões para 17,8 milhões de pessoas. Para a ABTA (Associação Brasileira de TV por Assinatura), a queda seria mais efeito da crise na economia local do que resultado de migrações de público para VoD (vídeo sob demanda) e OTT (over-the-top). Ainda assim, as novas tecnologias não deixam de ser vistas pelo setor como uma ameaça competitiva. “São serviços concorrentes, sim, e infelizmente não regulamentados”, afirmou Oscar Vicente Simões de Oliveira, presidente executivo da ABTA, em painel da SET EXPO 2018. “Eles não contribuem para a infraestrutura, porém consomem banda das operadoras”.

Mundo afora, a receita das operadoras de TV por assinatura tem se mantido estável. Mas isso poderá mudar. Nos EUA, prevê-se que até 2020 o número de contas de VoD supere o da pay TV clássica. A saída para as operadoras, diz Oliveira, é não só a complementação dos pacotes com iniciativas próprias de vídeo sob demanda. “Tudo ruma para o one stop shop. Além de conteúdo, os planos poderão fornecer conexão à internet e outras facilidades tecnológicas”.

Na opinião de José Salustiano Fagundes, CEO da HXD OTT Solutions, as operadoras de TV paga no Brasil subestimaram o potencial do vídeo sob demanda. “Quando começamos a falar do assunto, quase uma década atrás, elas não deram muita bola. Agora, estão largando com atraso significativo em relação aos provedores emergentes”, relatou. Segundo Fagundes, VoD e OTT serão responsáveis por movimentar US$ 65 bilhões no mundo em 2021.

Moderador do painel, Mauricio Donato, professor de Rádio e TV da Universidade Anhembi Morumbi e conselheiro editorial da revista da SET, observou que as emissoras tradicionais estão cada vez mais atentas ao cenário. “Globo e Record, por exemplo, acabam de anunciar investimentos promissores na área de VoD”, afirmou.

Martha Terenzzo, diretora da consultoria Inova 360, acredita que as transformações não decretarão o fim da TV paga ou de outras formas de radiodifusão. “Mas haverá impacto, claro. As empresas não podem se esquecer de que a oferta de serviços cresce, competindo por uma renda do consumidor que se mantém a mesma”, lembrou. Para Martha, a palavra-chave para qualquer empresa de mídia é simplicidade. “As pessoas gastam horas no celular, lidam com volumes enormes de informação. Na hora do entretenimento, querem experiências descomplicadas”, recomendou.