Pesquisadores defendem análise profunda do comportamento dos espectadores na convergência digital

“Se os antigos consumidores eram previsíveis e ficavam onde mandavam que ficassem, os novos são migratórios, demonstrando uma declinante lealdade a redes ou meios de comunicação”, afirmou Fernando Moura, professor e editor-chefe da Revista da SET, na abertura do painel “A visão da comunicação na convergência digital”, realizado nesta quinta (30) na SET Expo 2018. O debate reuniu cinco pesquisadores da academia ligados ao tema.

“Para quem trabalha com produção de conteúdo, conhecer o perfil de quem consome seu produto é fundamental para que se estabeleça uma comunicação eficaz que alcance os resultados desejados”, defendeu Carla Pollake, professora da Faculdade Cásper Líbero e sócia-fundadora da ECO (Escola de Comunicadores de SP). “Mas não se trata de fazer o que o consumidor quer e sim compreender o repertório mais acessível e de maior interesse ao seu cotidiano”.

No âmbito do público mais fiel, Fernanda Castilho, professora do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (Fatec) e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), tratou da mobilização transmídia a partir de dois casos da Netflix. Em um, mais de 300 mil fãs assinaram uma petição contra uma série da empresa acusada de gordofobia. Noutra, gerou debates e informações importantes sobre bullying e suicídio.

Francisco Machado Filho, jornalista, professor do curso de Jornalismo e Rádio e TV da Unesp/Bauru e diretor da TV UNESP, questionou o discurso em torno do conceito de convergência digital (broadcast e broadband), como se tudo fosse uma única coisa só para o espectador. “O consumidor vai saber a diferença de onde vem o conteúdo. Não há como juntar todas essas plataformas e todas vão continuar fazendo a mesma coisa”, afirmou.

A relação afetiva entre os espectadores e a televisão também são tema de uma pesquisa apresentada na SET Expo 2018. Deisy Feitosa, professora da USP e co-idealizadora do OBTED (Observatório Brasileiro de Televisão Digital e Convergência Tecnológica), apresentou o projeto Museu da Memória e Oralidades sobre a TV, que reúne depoimentos de telespectadores sobre a relação de suas vidas com a mídia. “O switch off mostra como as pessoas são apegadas à televisão, apesar de todos os conflitos e contestações”, disse.

Fernando Moreira, professor, diretor da TV Univape e presidente da ABTU (Associação Brasileira de Televisão Universitária), abordou em sua fala a evolução da divulgação audiovisual da ciência, um desafio compartilhado por televisões públicas, universitárias e comerciais. Ele citou diversos projetos universitários que usam realidade aumentada, grafismo, vídeo curtos e design 3D para melhorar e ampliar a produção e a transmissão do conhecimento.