Digitalização do sinal de TV aberta do país enfrenta obstáculos para chegar ao interior do país

O processo de implantação no país do sinal digital terrestre de TV aberta, que atenderá 63% da população até o fim deste ano, é tido até agora como bem-sucedido por governo e radiodifusoras. Mas é consenso que o desafio de levar a mudança para o interior do país até 2023, quando o sinal analógico será totalmente desligado no país, parece ainda maior.

No painel TV Digital – Onde chegamos e o que falta até 2023!, realizado nesta terça (28) no congresso SET Expo 2018, Antônio Carlos Martelletto, presidente da EAD – Seja Digital, elogiou o modelo de governança público-privado do Gired, que permitiu, por exemplo, a distribuição de mais de 11 milhões de kits para digitalizar televisores de tubo.

Segundo Aguinaldo Silva, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da TPV Technology, a efetividade da medida tem prazo de validade, já que a produção desse tipo de TV hoje é rarefeita e a solução passa então pela modernização da infraestrutura. Faltarão ser atendidos até o ano de 2023 cerca de 77 milhões de pessoas (37% da população) em 4.192 cidades (75%). “A indústria de televisores está pronta para 2023 e em contínuo avanço para impulsionar o mercado com novas tecnologias. E a radiodifusão?”, provocou Silva.

Raymundo Barros, diretor de tecnologia da Rede Globo, respondeu positivamente no painel. Ele afirmou que o setor de radiodifusão também está pronto para a mudança tecnológica, mas elencou obstáculos para o avanço de um modelo híbrido de radiodifusão e internet, como os marcos regulatórios do país. “Estamos enfrentando um choque de realidade de duas indústrias muito distintas, em um ambiente de assimetria regulatória”, declarou. Segundo Barros, as radiodifusoras não têm a mesma liberdade que plataformas digitais para experimentar modelos de negócio.

Moisés Queiroz Moreira, secretário de radiodifusão do Ministério da Ciência, Tecnologia, Informações e Telecomunicações, defendeu a prorrogação do Gired (Grupo de Implantação do Processo de Distribuição e Digitalização de Canais de TV e RTV) e o direcionamento de quase R$ 1 bilhão remanescente desta fase da digitalização para a implementação do serviço no interior do país até 2023. Para ele, o decreto federal 9.479/18 deve facilitar o processo com menos burocracia e expansão mais rápida do serviço.