São seus olhos…

ed160_pag46_2NAB 2016 – “O OLHAR DOS ESPECIALISTAS DA SET”


O foco da NAB 2016 foi a tecnologia 4k!

por José Frederico Rehme

ed160_pag60_1

Cada quarta-feira da NAB se ouve muito em grupos, formais ou não, a discussão sobre o ponto alto da mostra e Congresso corrente, os que são os “highlights” do ano. Apostas no que veio para ficar, separando daquilo que é apenas moda ou falsa tendência e que logo será esquecido. Como se fosse uma decisão vital, ou você “entra na onda certa”, ou está fora deste maravilhoso mercado.
Em 2015, a menina dos olhos foi o HDR. Muita gente falando disso mesmo sem saber seu real significado, aplicação ou utilidade. Mas, mesmo assim, apostando, a favor ou contra. Anos atrás, lá por 2011 ou 2012, o 3D parecia o único caminho para a produção. Voz dissonante (e hoje parece que acertaram!) foi da NHK – emissora pública japonesa, não acreditando naquela linha de tecnologia, se voltando para a imersão por grandes telas com definição altíssima (8K). Ainda com a visão futurista, trabalham de forma intensa na holografia.
Em minha opinião, a resposta certa é: “depende”. Depende da sua área de interesse, do momento econômico da sua empresa, setor ou local de atuação, do marketing aplicado, do acordo entre as empresas para tentar evitar multiplicidade de padrões que não se conversam, da abrangência da sua atividade. No final das contas, sugiro não perguntar a ninguém, quem define o que foi de interessante e promissor na mostra é você mesmo. Isso faz deste e outros eventos técnicos e científicos uma experiência única e individual, quase inenarrável. Bons para uns, excelentes e espetaculares para outros, sem sal para terceiros. São seus olhos.

ed160_pag60_2Ainda assim, já me contradizendo, vou expor a minha experiência na NAB 2016.
1. Soluções mecânicas: gruas, veículos, estabilizadores, trilhos. Quem gosta ou procura produtos assim, como sempre encontra muita variedade. Observou-se muita tecnologia embarcada, drones e robôs com movimentos espetaculares, rápidos e imprevisíveis, mas com suavidade, desafiando a lei da inércia.
2. Equipamentos para implantação de redes sem fio proprietárias para tráfego de alta velocidade, ou fornecendo acesso à Internet ou 4G. Rádios com tecnologia MIMO e Mesh são abundantes, de marcas já tradicionais ou novos pretendentes no negócio, normalmente da Ásia. Pequenos servidores (não sei se esse é o termo certo) processando o bitstream com novos protocolos e codecs, e ainda dividindo e sincronizando fluxos, conseguem transmitir taxas elevadas com pequena latência nas redes ditas públicas.
3. Painéis enormes, projetados ou luminosos, antes, quando chamavam a atenção pela intensidade, resolução e outras características, eram de poucos fabricantes. Este ano podiam ser encontrados de muitos fornecedores, impressionando o visitante, através do tamanho das telas e das imagens escolhidas, e com preços já não tão distantes. Tecnologia? 4K, 8K!
4. Estandes enormes e com muito apelo: evito falar de marcas, mas, neste caso, não tem como não citar os espaços da Red Digital e da Blackmagic Design. Outro que recomendo a visita é o da Ericsson, sempre insistindo na sua visão e capacidade de viabilizar a tecnologia do futuro próximo.

Super Session “ 4K, UHD, HDR and More – The Future of Video”

Super Session “ 4K, UHD, HDR and More – The Future of Video”

5. Pavilhão da Realidade Aumentada e do Futures Park. Esses espaços são sempre muito interessantes. As experiências procuram fazer com que estejamos sensorialmente mais próximos do fato mostrado. Imagens e sons multidirecionais (às vezes cheiros, e até mesmo toques) permitem a imersão, mas do ponto de vista tecnológico, se constituem em um grande desafio: pense na taxa, na capacidade de armazenamento, no processamento e na sincronização de tanta informação. Ainda bem que a disponibilidade de recursos tecnológicos cresce muito rápido, não limitando tais experiências. Em minha opinião, o chato ainda é ter de vestir o tal dos óculos. Esperemos a holografia.
6. FEMA, Sistema de Alerta e de Emergência: gosto muito de ver as possibilidades de um sistema em rede de agregar utilidades tão importantes quanto essenciais, nos quesitos de segurança pública. Receber alertas de catástrofes climáticas, por exemplo, pode fazer toda a diferença. A tecnologia já está pronta e os fatos para sua demanda, infelizmente, ocorrem. Pena que ainda não usamos estes recursos que poderiam reduzir os impactos destes fatos.
7. Congresso NAB 2016 – Super Session “4K, UHD, HDR and More – The Future of Video”. As “Super Sessions” na NAB são um show à parte. Moderadores polêmicos ou pelo menos carismáticos, sempre conhecidos do público norte-americano, colocam os palestrantes de destaque em verdadeira discussão. Este aqui citado foi moderado pela Deborah Mc Adams (NewBay Media), e os painelistas foram: James De Filippis (TMS Consulting), Mark Shubin (ShubinCafe.com), Matthew Goldman (Ericsson), e Robert Seidel (CBS). O formato de moderação, perguntas, e provocações, propicia a individualidade das opiniões e experiências. Seguem os destaques do painel:
a) É quase consenso que todas essas realidades tecnológicas que aprimoram a resolução e exploram a dinâmica da luz e do foco são muito bem vindas para coberturas em esportes e entretenimento, enquanto que o 8K é oportunidade para criação e grandes produções (pelo menos por enquanto).

Pavilhão da Korea destaca o UHD

Pavilhão da Korea destaca o UHD

b) O uso de todas essas ferramentas juntas, especialmente 4K com HDR, resulta numa experiência visual incomparável, muito diferente da percebida pelo tradicional HD; para telas grandes, é sensacional e indispensável, já para telas de PC ou tablets, a percepção é minimizada.
c) Deve-se tomar cuidados com a produção, pois imagens em movimento com 4K podem tornar os artefatos mais visíveis.
d) Um questionamento da plateia foi feito sobre a falta de estudos acadêmicos, comparando as sensações, efeitos, náuseas, em produções em HD x UHD, HDR on x HDR off. Entende-se que existe uma oportunidade interessante de estudo a respeito.
e) Mark Shubin, sempre provocando, disse que o mundo é 8K. O operador de vídeo precisa estar apto a usar todos esses novos recursos. Com essa afirmação, quase respondeu a outra pergunta da plateia, sobre como reduzir o custo da produção em UHD. A pergunta que cabe ao tópico não é sobre a redução (esta virá naturalmente com a adoção maciça, a economia de escala e de mercado), mas sobre a viabilidade, hoje, da relação do impacto visual e os resultados do interesse do telespectador, com o investimento aplicado para realizar a produção. Matthew concordou desde que haja disponibilidade de banda, mas que, muitas vezes, o resultado econômico e o visual não são compatíveis. Enfim, a grande questão deixada sem resposta uníssona trata da relação custo/benefício e do uso mais nobre do recurso limitado chamado: Banda!

Ericsson sempre insistindo na sua visão e capacidade de viabilizar a tecnologia do futuro próximo

Ericsson sempre insistindo na sua visão e
capacidade de viabilizar a tecnologia do futuro próximo

Não resisti, vou dizer: para mim, o foco da NAB 2016 foi a tecnologia 4k! Havia várias demonstrações de UHD TV 4k e áudio 22.2, este com impressionantes apenas 256 kbps. Como broadcaster, insisto que devemos aplicar todos os nossos esforços no uso e no suporte à evolução tecnológica. A radiodifusão aberta é, pelas condições físicas, deverá se manter por muito tempo, como a melhor forma de distribuir conteúdo de alta qualidade simultaneamente para um público grande e disperso. Esportes, notícias frescas e outras informações e entretenimento de consumo instantâneo encontram na estrutura broadcast as condições ideais de viabilização do custo/benefício.
Não devemos nos abster, seja qual for o motivo, de brigar pela implantação rápida e imediata das inovações já disponíveis. Vejam a velocidade da oferta da tecnologia: em 2014 vimos transmissões experimentais de TV 8K no ar. Muitos pensaram: mas ocupa muito espectro, são de cunho apenas acadêmico e científico. Na NAB 2015 ouvimos falar do ATSC 3.0. Agora, após um ano, essa tecnologia foi demonstrada em toda a cadeia fim-a-fim, inclusive com televisores com demodulador integrado. Presenciamos testes da transmissão de TV UHD em um canal de 6 MHz, e a Coréia do Sul já tem planos definidos para sua implantação próxima. Enquanto isso, abaixo da linha do Equador, ainda gastamos energia na velha TV analógica! Em algum dia do futuro, outra tecnologia de rede de acesso vai conseguir levar aos usuários aquilo que já conseguimos fazer hoje, e aí talvez seja tarde para corrermos atrás…

ed160_pag60_6José Frederico Rehme (RPC TV, SET, UP) Mestre em Ciências (2007) e engenheiro Eletricista (1990) pela UTFPR. Coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações na RPC (Rede Paranaense de Comunicação, Curitiba (nesta empresa desde 1986); professor e coordenador de cursos de Engenharia Elétrica e Engenharia de Energia na UP – Universidade Positivo, Curitiba; e Diretor de Ensino da SET pelo biênio 2014-2016.
Contato: [email protected]